sábado, 24 de abril de 2010

3 X A Igreja do Diabo



E finalmente temos o resultado final de nosso trabalho! De 27 de abril a 25 de maio, todas terças-feiras às 20:30, apresentaremos nosso espetáculo. A Igreja do Diabo de Machado de Assis foi dividido em três atos: A Criação, dirigido por Cleide Fayad, A Ascenção, dirigido por mim e A Queda, dirigido por Augusto Marin. Cada um destes atos apresentará uma proposta de adaptação que será desdobrado em três versões. Ou seja, teremos três aspectos do conto que se tornam três versões cada, totalizando nove cenas.
Este último mês foi uma correria para conseguirmos conciliar horários, reavivar ânimos, conseguir espaços de ensaio... mas graças ao empenho de nosso grupo estamos prontos para nossa temporada.

Evoé pessoal!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Relatório 7


RELATÓRIO 3 EM 1

16 de março de 2010


por Antônio Gomes


Um ritual medieval de consagração !


O trabalho coordenado por Celso Amâncio partiu de um relaxamento com direito a massagem . E assim, foi dado o primeiro passo, ainda suave do porvir...

Propôs em seguida um exercício de improvisação: Ouviríamos, ainda sem movimento e em silêncio, uma música, a partir da qual, gradativamente, em comunhão com seu pulsar, deixaríamos o acontecer.


Gente virou bicho; bicho virou anjo: Deus, diabo, dança, festa? O que foi aquilo?


Ao gradativo crescendo de uma canção medieval profana, os deuses parecem ter iluminado o grupo. Um quase elenco foi entrando em harmonia. Danças conjuntas; personagens em conflito! Pássaros voavam...

De fato, a diversão tornou-se possível. Um quadro de Hieronymus Bosch? Sim, intuitivamente a cena foi se desenhando em acordo com o "commune" e com a estética do som !

Inconsciente coletivo, ou por magia, o exercício possibilitou encontros improváveis e união do conjunto.


Deus e o diabo na terra dos Super-heróis!


Ir ao dentista pode ser desconfortável! Mas quem pode negar, o quanto é necessário!

Brincadeiras a parte, sempre chega a hora da verdade.


A segunda atividade da noite foi justamente encenarmos, conforme combinado, trechos relacionadas a "Igreja do Diabo" e a crônica dos "Super-heróis" sob o olhar clínico de José Augusto. Parênteses (E isso dói !)

Dói, mas é bom.

Assim, fomos afinando. Colhemos material, muita coisa boa, mas, como o próprio diretor disse: Devemos entrar na fase da verticalização ! (Aprofundamento). Logo, ficou tratado que nessa quarta, além de qualquer atividade extra, cada grupo procuraria afunilar, detalhar uma cena.

Finalizo com a frase de Augusto, com a qual concordo, mas antes de mim, Ezra Pound e outros tantos:


"Menos é mais...Menos é mais!....(mas completo)


SENÃO...TUDO FICA MAIS OU MENOS !


(Pessoal... desculpem a demora em atualizar o blog, sabem como tudo foi corrido por causa da TEIA, que aliás proporcionou fotos lindas! Temos muitas fotos para colocar aqui e vou tentar me centrar nelas! Além é claro dos vídeos... enfim! Milhões de coisas)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Relatório 6


por Adriano Veríssimo

Esquecemos de algo?!


Esqueci de anotar o recado. Esqueci de dar os parabéns. Esqueci.


Você se esqueceu do que fez final de semana passado? Esqueci.


Você já se sentiu esquecido? Esqueci.

Esquecimento é fato no ser humano e sem nenhuma novidade. Grandes estrelas entraram no anonimato. E não estamos falando de estrelas momentâneas de reality show e sim de “pessoas” que fizeram parte de nossa vida, de nossa infância. Este foi o tema desta semana no “3 em 1”: SUPER-HERÓIS ENVELHECIDOS. Aqueles que você brincava quando pequeno e achava-os o máximo, mas hoje estão, simbolicamente, no: Retiro dos Super-Heróis. Simplificando: Asilo.


Baseado no texto ficcional, da coluna do jornal Folha de São Paulo, escrito pro Moacyr Scliar chamado “OS SONHOS DOS SUPER HEROIS”, nesta terça-feira (09/03) surgiram três cenas diferentes com os incríveis heróis, uns que entraram no esquecimento, outros que foram parar no inferno por não terem cumprido suas devidas obrigações e outros que vêem o tempo passar, poeticamente.

O tempo passa depressa e não vemos. E mesmo um super-herói não consegue fazer com que isso mude. O tempo passa.



Fracasso? Você já se sentiu fracassado? Imagine quem veio ao mundo para salvar a humanidade e fracassa. Inferno é pouco para eles? Ou o diabo não tem nada a ver com isso?



Esqueceu o que foi dito primeiro? Esqueci.


Esqueceram de te agradecer pelo dinheiro emprestado?


Esqueceram. E isso dói.


Pior, esqueceram daqueles que os salvaram inúmeras vezes de bichos horripilantes em sonhos. Ou mesmo, esqueceram de visitar o vovô Super-Homem e a vovó Maravilha.



Opa, um momento, se esqueceram deles...esquecerão de nós?




Esqueci.

terça-feira, 16 de março de 2010

O Elefante no palco


por Antônio Gomes


"Ator: artesão da ação em detalhe”

O elefante estava assistindo um ensaio teatral. A mesma cena era repetida inúmeras vezes! O “animal” pensava:

- Como é fácil, é só perceber: Olha aquele ator, movimentou de mais os braços – não precisava; aquela atriz, nossa, numa viradinha de olhar resolveu a cena!

O elefante – por natureza- um cabeçudo, realmente “entendia” tudo; raciocinou:

- O ator é um artesão da ação em detalhe: quando pisa no palco, cada movimento, inclusive de pálpebras, um dedo, tudo significa, logo, como é importante economizar!

Estava o tal, em sua filosofia cabeçuda, quando o Diretor convocou-o:

- Oh, Dumbo, vai para o palco, quero ver se tu és tão bom agindo quanto falando!

Necessário lembrar que, a cada parada do ensaio, ele era o primeiro a dar opiniões sobre os resultados; confiante de ter “entendido” tudo.

Assim, ele e sua tromba entraram em cena – racionalmente - dispostos a delicadeza de uma bailarina, pensava:

- Detalhe, detalhe, não se movimente tanto...

Tudo corria bem, ele era o amante deitado ao lado de uma mulher, quando o parceiro(a) desta chegava e os pegava no flagra. (Mal precisava abrir a tromba).

O animal estava indo bem, quase não se movimentava; por vezes, sentiu a emoção de ser aquele que fora pego de surpresa na casa de alguém, agarrando uma dona de casa.

Resumindo, “entendendo” que havia de defender sua amante do "agressivo" cônjuge. partiu para cima; sem noção de peso, ou tamanho; rolaram coxia abaixo a atriz - que fazia o marido traído -; algumas toneladas de falta de consciência corporal, assim como, qualquer possibilidade de significação da cena...

Moral da estória:

- Não basta cabeça; muito menos força. Não basta conseguir ver o que há de errado. O ator parece ter que “sentir entendendo”; “emocionar-se atento” e, manter a mais absoluta consciência do seu corpo, do espaço – inclusive do corpo e espaço da pessoa com quem contracena... Pensou:

- OH, essa “inteligência” , oras bolas, serviu-me de nada!

OBS: Crônica inspirada em exercício de improviso (Pretexto), proposto e dirigido por “José Augusto”, momento de muito aprendizado sobre a arte de estar no palco.

sábado, 13 de março de 2010

Sinisterra


Na tarde do dia três de março um número grande de artistas do meio teatral paulistano aproveitou a tarde quente para ter um encontro com um dos principais nomes do teatro espanhol da atualidade: José Sinisterra! Relização do 3 em 1 em parceria com o Teatro Commune. Na noite anterior os atores-autores do projeto compareceram na estréia de sua peça "As flechas do anjo do esquecimento", com o grupo As Magnólias, partipando da conversa com a cabeça ainda embebida por sua arte.


Falando sobre as particularidades de sua arte ao lado de Daniela, sua produtora brasileira, quem ajudou a tornar este encontro.
E aqui com o Marin junto numa risada. A simpatia e dedicação ao ofício foram suas marcas durante a conversa.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Atualizando...


A última semana foi tão corrida que acabei deixando de atualizar nosso blog como devia... Assim, vamos um post em das partes

Primeiro os informes...

Não haverá encontro extra hoje a noite, vamos planejar este encontro para outro dia. Mas hoje à tarde combinei com Cleide, Gabriel e Cláudia de trabalharmos nossa cena para a TEIA de Fortaleza, quem quiser comparecer na Commune às 15h para nos ajudar fique a vontade.

Segundo, o relatório de Patrícia acompanhado por algumas fotos das cenas baseadas no texto da Marina Colasanti.

Relatório 5
por Patrícia Moreira

Iniciamos nossa jornada com a continuação da aula anterior, onde apresentamos as esquetes baseadas nos textos produzidos a partir do conto A Fome, do livro Zooilógico de Marina Colassante. Os grupos se apresentaram em no máximo quartetos.
Houve ao término a proposição de cena dos alunos com " a psicológa" para doze pessoas representarem em duplas vários casais em situações diferentes que intercalavam entre si com frazes curtas.
Interessante apontar que vários grupos solicitaram a participação de membros de outros grupos para voz off e coro, como inconsciente dos personagens ou reafirmação de frases já ditas.No que foram prontamente atendidos.
Também a preferência dos grupos em utilizar conflitos entre casais ou duplas(separações, desilusões, discuções, profissionais, etc).
Aberto um debate curto para colocações do grupo que representou a impressão dos demais quando as esquetes.













(continuação do relatório da Patrícia)
Exercício referente a sub-texto.
A partir de texto curtíssimo proposto, experiênciou-se em duplas as proposições apresentadas para mesmo texto.
Após de três a quatro rodadas, formaram-se duplas para representar que tinham intensificadas ao ato e necessidade de partir para outros caminhos tanto, na voz, expressão corporal e mesmo sub-texto pelo condutor da atividade, tornando a refazer a mesmo cena sob outros diretrizes.
Devido a escassez de tempo foram representadas apenas cenas que se tinham como sub-texto duas pessoas que não se conhecem, um casal onde um dos 'partiner' dormiu fora de casa, um flagrante de traição e aperda de um bilhete premiado.

(amanhã coloco as fotos do exercício de subtexto, senão fica coisa demais num dia só. Tem também um conto do Antônio que virá na sequência. Abraços)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Todo animal é mágico



Relatório 4 feito por Cleide Fayad... vou tentar aumentar essa imagem, enquanto não consigo basta clicar sobre que ela que a Fênix abre as asas bem generosa para todos!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Bichos!



Na última quarta-feira antes do carnaval o pessoal foi convidado a passar por uma metamorfose, deixando que o corpo aos poucos de transformasse em bicho.

Depois deram vida aos bichos da Marina Colasanti.








quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Relatório 3



por Renata Roquetti

Dramaturgia: a partitura encenada!

Como já foi escrito por Celso, tivemos, na última terça-feira, um encontro encantador com o dramaturgo e diretor de teatro Samir Yazbek. Um apaixonado pela arte do teatro, Samir nos “deu de beber” um pouco de suas palavras e experiências pela arte da dramaturgia e do teatro.

Samir conversou com uma platéia atenta, formada por alunos da oficina e outros espectadores, sobre dramaturgia, passando pelos movimentos de grupos teatrais em São Paulo, o que, segundo ele, fez com que a cena voltasse à cena, até a importância do ensino de dramaturgia no Brasil, bem como a política pública e privada para o fomento da arte teatral no país.

Um apaixonado pelas Palavras, ele discorreu sobre sua utilização de maneira precisa, bem feita, bem costurada e falou sobre a importância da encenação como resultado final para conhecimento do texto dramático.

Com leveza e energias positivas, Samir foi respondendo às perguntas do público e em uma delas, a que me deu a luz para o título deste texto, ele fez alusão à encenação e leitura do texto dramático como o trabalho de composição e interpretação da partitura pelo músico.

Ao final, ficamos com vontade de não parar a conversa e com um pedido latente: Samir, componha mais partituras!


Na eternidade das baratas

Com a proposta de fazermos uma encenação, à partir da leitura do conto de Clarice Lispector, Cinco Relatos e Um Tema, esta quarta–feira, tivemos um encontro delicioso com a eternidade das baratas.

Cada um dos seis grupos encenou e assistiu a interpretação diferente, complementar, engraçada, densa e inusitada do conto.

A mistura açúcar, farinha e gesso (para quem não leu o conto, vale a pena em entender que a mistura é receita antiga) apareceu em suas várias facetas:

Na encenação do diálogo da mulher consigo mesma, com seu inconsciente; na posição cênica do relembrar fragmentos da história de uma mulher; numa conferência, um tanto quanto peculiar, de baratas; numa trilha sonora de dar susto e vontade de gritar, quando se vê uma barata; numa barata narradora personagem, asfixiada pelo golpe antigo de chinelo, e nas breves histórias do rito da mistura e do medo de baratas.

Deu para sentirmos o gosto do começo e que vamos colher lindos frutos, ao longo desta oficina!

Seguindo a tradição: 3 vivas ao Teatro em 1 texto pelo Teatro:

Um viva à Paulo Autran: um dos maiores atores do teatro brasileiro!

Um viva à Calcida Becker: grande atriz do teatro brasileiro!

Um viva à Samir Yazbek: dramaturgo e diretor de teatro brasileiro!


Beijos e boas energias

Renata

(e olha essa imagem da Clarice... parece até que ela está num filme do Bergmann)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A quinta, a sexta, a sétima história...


Queixei-me de baratas! Mas elas nos dominaram na última quarta-feira. Deixaram o lixo para ganhar consciência, corpo-humano, organizarem-se em congressos e se tornaram nosso espelho. As baratas reivindicam um lugar concreto em nossa cabeça. Clarice que o diga. O que terá pensado seu fantasma naquela evocação de seu nome?

Gostei muito do que vi, do que foi criado quase no improviso, entre tempestades e muita vontade. Por fim vemos que o teatro não pode perder seu lado lúdico... apresentamos propostas de encenação e brincamos com o espaço, com o texto, com as baratas...

Da primeira cena nos surpreendeu a intensidade do texto e boa desenvoltura das atrizes, tive depois um insight... a cena me lembra um momento do filme “The Naked Lunch” de David Cronenberg. Já viram? Tem uma mulher no filme que é viciada em veneno de barata e se torna grotesca e sensual ao mesmo tempo. Fiquei imaginando que aquela cena ficaria interessante com uma pitada de grotesco....

Da segunda cena me marcou a precisão das meninas, a composição da imagem que elas conseguiram criar, fazendo as vozes da personagens ecoar em diferentes tonalidades.

Da terceira cena mergulhei no mundo de Ionesco, Pirandello e outros nomes do teatro do absurdo. Uma situação inquietante, uma incrível tensão sarcástica na reunião das baratas.

Da quarta cena me surpreendeu o jogo entre mulher e barata que se aproximava de uma coreografia, aproveitando muito bem a guitarra do Pink Floyd e uma entrada épica de um radialista.

Da quinta não podemos deixar de esquecer o tragicômico relato da barata enquanto a trama das duas mulheres se desenvolvia. Uma cena que se aproximou muito do encadeamento do conto, conseguindo se realizar com boas soluções cênicas.

Da sexta, coroando o encontro, tivemos metalinguagem. O grupo comentando o próprio processo, com bom humor, apropriando-se de maneiras diversas da própria voz de Clarice e transformando a farinha letal em outra farinha...

Agora pessoal, vamos adentrar na igreja do diabo!


(Na foto o segundo grupo. Como fui eu que tirei as fotos elas ficaram péssimas, essa foi uma das poucas que salvou. Mas nos próximos exercícios tentaremos resolver essa questão)


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Samir em três atos








Sem palavras para descrever a conversa com Samir Yazbek. Nem é algo para ser descrito, mas para deixar as palavras e a sensibilidade deste artista repercutindo em nossas ideias.
Mais surpreendido ainda com a declaração do próprio que aquele encontro foi especial.
Quem esteve lá sabe!


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Para lembrar...


Hoje na Commune às 20h!
Entrada Franca!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Leibnitz e a transcendência do amor na Polinésia


por Roberto Munhoz

Queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu e tudo o que se sucedeu, do

preparo do banquete macabro ao extermínio calculado, é a mais pura das

verdades, da qual não há o que tirar ou por. Nos dias seguintes,

vigiei. Por precaução, renovei a dose do preparado letal, mas a

notícia entre as baratas deve ter corrido mais rápida do que elas

próprias. Os insetos não voltaram!


Vim, espargi e venci. Simples assim.


Quem dera!


Não conseguia livrar-me do costume de examinar frestas, de abrir

gavetas com cuidados extremados, da lembrança de quando,

inesperadamente, algo se movia dentro de meus sapatos, tentando

escapulir entre os dedos. Dormia um sono agitado, o mais leve

farfalhar das cortinas fazia-me levantar sobressaltada, com o chinelo

em riste, procurando movimentos suspeitos na penumbra. A repulsa das

baratas continuou impregnada em mim, na minha alma!

Certa noite, após achar ter ouvido um roer na prateleira, o sono

custou a vir. Examinei cuidadosamente os vãos entre os livros,

principalmente na seção reservada à Kafka. Nada! Antes de voltar à

cama, pesquei aleatoriamente um volume, “Novos ensaios sobre o

entendimento humano”, de Leibniz, que teimo grafar “Leibnitz”, com

t”, por causa da uma antiga professora de filosofia que... bem, essa

é outra história, talvez a próxima da série e que, portanto, deixo

para depois. O importante é que resolvi ler “Novos ensaios” na

tentativa de entender as disposições da alma que conduzem o agir

presente. Queria mesmo era livrar-me das baratas ocultas, rastejantes

em meu inconsciente e que me punham de sobreaviso nas pontas dos pés

dentro de minha própria casa.


Esforcei-me em compreender a definição filosófica do sábio acerca da

contingência humana’, pois que vinha mergulhada numa daquelas, mas o

sentido lógico escapou-me por completo. Talvez o empirismo de Locke

fosse mais útil para mim. Já a noção de ‘ação espontânea’ – quando o

princípio de determinação está no agente, não no exterior deste, e a

ação depende, em última instância, do indivíduo – captei de pronto

usando puramente a intuição.


Oh, Deus! Filosofar altas horas da noite por causa de reles baratas?!

Eu as podia sentir enquanto lia, estavam ali, dentro de mim, não no

exterior, em ação espontânea, vasculhando as tubulações da minha

imaginação.


Quando cheguei ao capítulo sobre ‘reflexão’, um fato cristalino saltou-

me aos olhos. Dizia o texto do célebre alemão: “o que diferencia o

animal humano dos demais é a capacidade de reflexão, de pensar a ação,

e de saber por que agem”. Bom, realmente não fazia a mínima de por que

vinha agindo daquela maneira em relação aos fantasmas das baratas

friamente exterminadas. Afinal, teria eu perdido o último elo que me

distinguia dos animais?


Fechei o livro, desconsolada e confusa, invadida por uma onda de

angustia ainda maior do que a angustia que sentia ao ver insetos. Meus

dedos correram febris para o controle remoto da TV, a única chance que

tinha de escapar naquele momento da realidade opressora do quarto...

claro, excluindo a possibilidade de servir-me dum coquetel mortal à

base de farinha e gesso, que sabia preparar tão bem.

Apertei seguidas vezes a tecla ‘V’, escalando canal a canal, esperando

sintonizar algo incongruente que pudesse ao menos distrair-me um

pouco, o que não tardou: a imagem dum homem barbudo falando sobre

certo quadro abstracionista surgiu; sua desenvoltura num traje formal

pretendia convencer o leigo de que a obra era mais simples do que se

supunha enquanto ele próprio, mais complexo do que aparentava.


Este quadro – dizia o homem - titulado UPWARD, de 1929, como o nome

diz, representa a transcendência da matérial... tema recorrente na

fase pré-septuagenária de Kandinsky...”


Meu cérebro exausto puxou pela memória: Kandinsky, o célebre pintor

russo naturalizado francês, o “pai da abstração”. Encarei a UPWARD na

tela da TV; a pintura exibia um misto de chave e fechadura e que, sem

dúvida, não era nem uma coisa, nem outra. Imaginei-a virada de cabeça

para baixo... não ficaria, assim, tão mal.


Quando pareço idiota apenas por distração sou insuportável; é também

sinal da supremacia do cansaço sobre a mente, que teimava manter-se no

comando. Provavelmente o significado da pintura, como dito, era

exatamente aquele, a ‘transcendência da matéria’; para mim, no

entanto, significou a transcendência do estado de vigília para o do

sono.


O programa de TV fez uma pausa, um ligeiro intervalo comercial,

suficiente para que eu saísse em busca de Eurídice no reino de Hades

embalada pelos acordes de Orfeu.


Meus olhos reviraram lentamente, com certa brandura até, enquanto a

vinheta sussurrava a próxima atração televisiva: ‘Amor na Polinésia’.

Algo relacionado à vida marinha no arquipélago ou à lua de mel nos

resorts das ilhas?


Leibnitz versus Locke, Liberdade versus... determinação...

contingência... espontaneidade... reflexão... minha reflexão turvou-

se... não sabia dizer se era humana... ou animal... o importante é

que... já não importava...


Naquela noite, depois de muitas, muitas outras, não pensei em baratas,

mas apenas em Leibnitz e a transcendência do amor na Polinésia.


(esse conto foi enviado pelo participante Roberto Munhoz, depois do desafio que lançamos no último encontro. Deveriam criar uma cena teatral, ou outra versão para o conto "A Quinta História" de Clarice Lispector. Não sei porque o blog deixou ele com as linhas e frases cortadas. Roberto, tentei de várias formas deixar igual era mais o blog só tá aceitando ele assim. Mas até que ficou interessante, parece que está em versos)