Queixei-me de baratas! Mas elas nos dominaram na última quarta-feira. Deixaram o lixo para ganhar consciência, corpo-humano, organizarem-se em congressos e se tornaram nosso espelho. As baratas reivindicam um lugar concreto em nossa cabeça. Clarice que o diga. O que terá pensado seu fantasma naquela evocação de seu nome?
Gostei muito do que vi, do que foi criado quase no improviso, entre tempestades e muita vontade. Por fim vemos que o teatro não pode perder seu lado lúdico... apresentamos propostas de encenação e brincamos com o espaço, com o texto, com as baratas...
Da primeira cena nos surpreendeu a intensidade do texto e boa desenvoltura das atrizes, tive depois um insight... a cena me lembra um momento do filme “The Naked Lunch” de David Cronenberg. Já viram? Tem uma mulher no filme que é viciada em veneno de barata e se torna grotesca e sensual ao mesmo tempo. Fiquei imaginando que aquela cena ficaria interessante com uma pitada de grotesco....
Da segunda cena me marcou a precisão das meninas, a composição da imagem que elas conseguiram criar, fazendo as vozes da personagens ecoar em diferentes tonalidades.
Da terceira cena mergulhei no mundo de Ionesco, Pirandello e outros nomes do teatro do absurdo. Uma situação inquietante, uma incrível tensão sarcástica na reunião das baratas.
Da quarta cena me surpreendeu o jogo entre mulher e barata que se aproximava de uma coreografia, aproveitando muito bem a guitarra do Pink Floyd e uma entrada épica de um radialista.
Da quinta não podemos deixar de esquecer o tragicômico relato da barata enquanto a trama das duas mulheres se desenvolvia. Uma cena que se aproximou muito do encadeamento do conto, conseguindo se realizar com boas soluções cênicas.
Da sexta, coroando o encontro, tivemos metalinguagem. O grupo comentando o próprio processo, com bom humor, apropriando-se de maneiras diversas da própria voz de Clarice e transformando a farinha letal em outra farinha...
Agora pessoal, vamos adentrar na igreja do diabo!
(Na foto o segundo grupo. Como fui eu que tirei as fotos elas ficaram péssimas, essa foi uma das poucas que salvou. Mas nos próximos exercícios tentaremos resolver essa questão)
3 comentários:
O teatro tem seu encanto e sua mágia, é "só mesmo os doentes do coração deveriam ser atores", o exercício foi magnifico, posso dizer que a palvra que defini o resultado e surpresa, a cada cena, a cada atuação, a cada ator uma nova surpresa, estou orgulhos de fazer parte deste grupo magnifico.
Cheguei depois, sobre o conto da clarice, restaram-me "as baratas", um poema:
As baratas
Essa não sabia do chinelo,
Vagabundeava noturna sobre o prato esquecido, há muito...
Li
gei
ran
do
e
Parando!
Li
gei
ran
do
e
Parando!
Fuçava
nojenta;
quando de repente,
voou!
Soava crocante
Sobremesa,
O debater
ao pedaço
De bolo – as asas!
Do topo da mesa
Abandonada,
Escorregou aos pés do dono, que esperava - sonolento e tardio- quase em fim de frase...
Pakt! Krach!
Assim, aos ladrilhos da cozinha,
Voltou ao nada.
Ele, sonâmbulo, seguiu ao quarto;
Com passos curtos,
tão pontiagudos
quanto
uma
fa
c
a
.
Num prazer assassino, sorrindo, pensou:
- Eram elas ou meu sono... Coitadas!
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