sábado, 6 de fevereiro de 2010

A quinta, a sexta, a sétima história...


Queixei-me de baratas! Mas elas nos dominaram na última quarta-feira. Deixaram o lixo para ganhar consciência, corpo-humano, organizarem-se em congressos e se tornaram nosso espelho. As baratas reivindicam um lugar concreto em nossa cabeça. Clarice que o diga. O que terá pensado seu fantasma naquela evocação de seu nome?

Gostei muito do que vi, do que foi criado quase no improviso, entre tempestades e muita vontade. Por fim vemos que o teatro não pode perder seu lado lúdico... apresentamos propostas de encenação e brincamos com o espaço, com o texto, com as baratas...

Da primeira cena nos surpreendeu a intensidade do texto e boa desenvoltura das atrizes, tive depois um insight... a cena me lembra um momento do filme “The Naked Lunch” de David Cronenberg. Já viram? Tem uma mulher no filme que é viciada em veneno de barata e se torna grotesca e sensual ao mesmo tempo. Fiquei imaginando que aquela cena ficaria interessante com uma pitada de grotesco....

Da segunda cena me marcou a precisão das meninas, a composição da imagem que elas conseguiram criar, fazendo as vozes da personagens ecoar em diferentes tonalidades.

Da terceira cena mergulhei no mundo de Ionesco, Pirandello e outros nomes do teatro do absurdo. Uma situação inquietante, uma incrível tensão sarcástica na reunião das baratas.

Da quarta cena me surpreendeu o jogo entre mulher e barata que se aproximava de uma coreografia, aproveitando muito bem a guitarra do Pink Floyd e uma entrada épica de um radialista.

Da quinta não podemos deixar de esquecer o tragicômico relato da barata enquanto a trama das duas mulheres se desenvolvia. Uma cena que se aproximou muito do encadeamento do conto, conseguindo se realizar com boas soluções cênicas.

Da sexta, coroando o encontro, tivemos metalinguagem. O grupo comentando o próprio processo, com bom humor, apropriando-se de maneiras diversas da própria voz de Clarice e transformando a farinha letal em outra farinha...

Agora pessoal, vamos adentrar na igreja do diabo!


(Na foto o segundo grupo. Como fui eu que tirei as fotos elas ficaram péssimas, essa foi uma das poucas que salvou. Mas nos próximos exercícios tentaremos resolver essa questão)


3 comentários:

André Luís disse...

O teatro tem seu encanto e sua mágia, é "só mesmo os doentes do coração deveriam ser atores", o exercício foi magnifico, posso dizer que a palvra que defini o resultado e surpresa, a cada cena, a cada atuação, a cada ator uma nova surpresa, estou orgulhos de fazer parte deste grupo magnifico.

ANTONIO CARLOS GOMES PINTO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ANTONIO CARLOS GOMES PINTO disse...

Cheguei depois, sobre o conto da clarice, restaram-me "as baratas", um poema:

As baratas

Essa não sabia do chinelo,
Vagabundeava noturna sobre o prato esquecido, há muito...

Li
gei
ran
do
e
Parando!


Li
gei
ran
do
e
Parando!

Fuçava
nojenta;
quando de repente,
voou!

Soava crocante
Sobremesa,
O debater
ao pedaço
De bolo – as asas!

Do topo da mesa
Abandonada,
Escorregou aos pés do dono, que esperava - sonolento e tardio- quase em fim de frase...

Pakt! Krach!

Assim, aos ladrilhos da cozinha,
Voltou ao nada.

Ele, sonâmbulo, seguiu ao quarto;
Com passos curtos,
tão pontiagudos
quanto
uma
fa
c
a
.

Num prazer assassino, sorrindo, pensou:

- Eram elas ou meu sono... Coitadas!