terça-feira, 16 de março de 2010

O Elefante no palco


por Antônio Gomes


"Ator: artesão da ação em detalhe”

O elefante estava assistindo um ensaio teatral. A mesma cena era repetida inúmeras vezes! O “animal” pensava:

- Como é fácil, é só perceber: Olha aquele ator, movimentou de mais os braços – não precisava; aquela atriz, nossa, numa viradinha de olhar resolveu a cena!

O elefante – por natureza- um cabeçudo, realmente “entendia” tudo; raciocinou:

- O ator é um artesão da ação em detalhe: quando pisa no palco, cada movimento, inclusive de pálpebras, um dedo, tudo significa, logo, como é importante economizar!

Estava o tal, em sua filosofia cabeçuda, quando o Diretor convocou-o:

- Oh, Dumbo, vai para o palco, quero ver se tu és tão bom agindo quanto falando!

Necessário lembrar que, a cada parada do ensaio, ele era o primeiro a dar opiniões sobre os resultados; confiante de ter “entendido” tudo.

Assim, ele e sua tromba entraram em cena – racionalmente - dispostos a delicadeza de uma bailarina, pensava:

- Detalhe, detalhe, não se movimente tanto...

Tudo corria bem, ele era o amante deitado ao lado de uma mulher, quando o parceiro(a) desta chegava e os pegava no flagra. (Mal precisava abrir a tromba).

O animal estava indo bem, quase não se movimentava; por vezes, sentiu a emoção de ser aquele que fora pego de surpresa na casa de alguém, agarrando uma dona de casa.

Resumindo, “entendendo” que havia de defender sua amante do "agressivo" cônjuge. partiu para cima; sem noção de peso, ou tamanho; rolaram coxia abaixo a atriz - que fazia o marido traído -; algumas toneladas de falta de consciência corporal, assim como, qualquer possibilidade de significação da cena...

Moral da estória:

- Não basta cabeça; muito menos força. Não basta conseguir ver o que há de errado. O ator parece ter que “sentir entendendo”; “emocionar-se atento” e, manter a mais absoluta consciência do seu corpo, do espaço – inclusive do corpo e espaço da pessoa com quem contracena... Pensou:

- OH, essa “inteligência” , oras bolas, serviu-me de nada!

OBS: Crônica inspirada em exercício de improviso (Pretexto), proposto e dirigido por “José Augusto”, momento de muito aprendizado sobre a arte de estar no palco.

7 comentários:

brain em braille ,poesia contra o tempo disse...

Parábola de peso.Parabéns mestre Antonio!

Anônimo disse...

tenho uma boa experiência acerca do corpo: não sei se vc sabe, toninho, mas sou da Educação Física. Muito interessante as reflexões vindas desse orelhudo!
=D
Abraço!
Sempre que precisar, dá um oi!
(willy barp)

Unknown disse...

NÃO FAÇO TEATRO , NUNCA FIZ ! ACHO QUE A INTELIGENCIA EMOCIONAL É TUDO ! AH SIM , MUITO FOCO ! CONTRACENAR , É ATO DE GENEROSIDADE PARA COM O OUTRO E A QUEM POSSA ESTAR ASSISTINDO A PEÇA !
PARABÉNS ! GOSTEI !
COM CERTEZA VOLTAREI AQUI !

ANTONIO CARLOS GOMES PINTO disse...

Kibon, Willy, pra vc..."Educação física" !

Eliane... Faço minhas, as suas palavras.Tb não faço teatro: Passo vergonha rsrsrs

Brain - Valeu o quase "haika"indo...

Divulgem e aproveitem, imagens e textos legais..abs

ABS

Estela disse...

Ótima criação! Eu não sabia que era do teatro também Antonio. Parabéns!
"Melhor um pirilampo que tem uma luz aqui acolá do que um elefante que pisoteia idéias."

Vou Ser Feliz e Já Volto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Celso Mendes disse...

Essa parábola bem humorada e inteligente me parece perfeita para representação teatral! Muito bom Antonio!!!